sexta-feira, 1 de junho de 2007

10. Vitória sobre a Morte






































O cristal do amor

Conto do Vietnam anotado e explicado por Pham Duy Khiêm

Era uma vez um ministro chinês que tinha uma filha de grande beleza. Como era tradição nas famílias nobres daquela época, a moça era mantida afastada do mundo, trancada numa alta torre do palácio mandarim. Muitas vezes ela ficava sentada na janela, lendo ou bordando.

Às vezes interrompia o seu trabalho, olhava para o rio que passava lá embaixo e sonhava em acompanhá-lo até a planície. De tanto em tanto ela via uma pequena barca de um pescador deslizar por sobre a água. O homem era pobre, mas sempre cantava. Era difícil ver o seu rosto ou reconhecer os seus gestos de tão longe, mas ela ouvia a voz que se elevava chegando a ela.

Sua voz era bela e a sua canção triste. Não sabemos que sentimentos ou sonhos surgiram no coração da jovem através da voz e da canção. Mas um dia, porém, em que o pescador não passara pelo rio, ela surpreendeu-se com o fato de que o esperava, e esperou até o fim do dia.

Esperou por ele dias e dias, em vão. E ficou doente. Os médicos não conseguiam descobrir as causas de sua doença, e os pais começaram a ficar preocupados, quando a moça de repente ficou bem: a canção fez-se ouvir novamente.

Uma criada informou ao mandarim que mandou chamar o pescador. Recebeu-o na presença de sua filha. Ao vê-lo, algo se quebrou dentro dela e não quis mais ouvir a sua canção. O pobre pescador, porém, levou um susto mortal com a visão dela. Foi acometido pela doença tuong tu. Um amor sem esperança consumia-no, foi definhando em silêncio até que a chama da sua vida se apagou. Levou consigo o seu segredo.

Alguns anos mais tarde, a sua família desenterrou a sua ossada para levá-la ao lugar definitivo. Mas no seu caixão encontraram, no lugar dos ossos, uma pedra clara e luminosa. Prenderam a pedra como enfeite na parte da frente da barca.

Um dia o mandarim viu a barca e admirou a pedra. Comprou-a e deu-a a um amolador que transformou a pedra numa linda xícara de chá. Sempre que se vertia chá na xícara, via-se a imagem de um pescador guiando a sua barca pela xícara. A filha do mandarim ouviu desta maravilha e quis vê-la com os próprios olhos. Verteu um pouco de chá e surgiu a imagem do pescador. Ela então se lembrou dele e chorou. Uma lágrima caiu na xícara que derreteu, virando água.

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