sexta-feira, 20 de abril de 2007

7. O Adversário





A Princesa na Coluna de Cristal

Hella Krause-Zimmer

Era uma vez uma alta montanha muito majestosa que reinava sobre a paisagem. Mas observando-a melhor, havia algo estranho nela: nos pastos não se viam vacas nem ovelhas ou cabras, não havia flores nem se ouvia pássaros cantando. As pessoas que moravam nas aldeias ao pé da montanha sabiam que era a montanha das bruxas. No meio da noite ouviam como elas brigavam e gritavam, mas ninguém sabia porque. E ninguém se atrevia a subir lá para averiguar.

Acontece, porém que, certo dia, um jovem caminhante chegou naquela região, e quando viu a bela montanha tão alta, imaginou que a vista do topo deveria ser maravilhosa, e como não encontrou ninguém a quem pudesse contar o que pensava fazer, ninguém o preveniu.

E assim começou a subir, percebendo logo que havia algo esquisito ali, pois as trilhas levavam a precipícios ou a matas cerradas, cheias de espinhos, obrigando-o a voltar várias vezes e procurar outros caminhos. Já estava entardecendo quando se aproximou de um riachinho cujas margens pode, então, acompanhar montanha acima. Já estava entardecendo quando ele viu algo brilhando no topo da montanha, iluminada pelo sol poente. Chegando mais perto, avistou muitas pedras brancas que o fitavam como olhos, e por fim chegou a uma grande rocha da qual jorrava a água que formava o riacho. Quando deu a volta na rocha, que surpresa! Avistou uma coluna de cristal e dentro dela uma princesa, a mais linda e delicada que já havia visto! Mas ela parecia tão triste, tão triste que lhe doeu o coração. Nesse meio tempo escureceu por completo e o jovem caminhante deitou-se atrás da rocha para descansar e observar escondido aquele fato tão estranho.

Meia-noite ouviu um barulho no ar e quando olhou, viu três bruxas que chegavam voando nas suas vassouras. Uma era mais feia e mais velha que a outra, os seus cabelos eram longos e não tinham sido penteados por, pelo menos, uns cem anos. As três se acercaram da coluna e começaram a brigar entre si. Arrancavam os cabelos umas das outras, batiam com as vassouras entre si, até que uma delas saiu vencedora, abriu uma portinha invisível na coluna de cristal e pegou a princesa pela mão. Quando o jovem viu que a bruxa levava a princesa para outro lugar, seguiu-as escondido nas sombras. Chegaram a uma choupana e ao entrar lá, a bruxa deixou a porta aberta, permitindo ao jovem observar tudo. E ele ouviu como a bruxa perguntava com voz toda gentil à princesinha:

- Querida, quer alguma coisa?

- Oh sim, estou com muita sede, faz três dias que não bebo nada! – respondeu a princesa.

Então a bruxa trouxe um lindo cálice cheio de uma bebida espumante que a princesa tomou com sofreguidão. Mas ao terminar, contorceu-se, jogou o cálice no chão e chorou:

- Sua bruxa malvada, o que me deu de beber? Era um refresco tão gostoso, tão doce e no final ficou tão amargo e nojento!

E a bruxa toda satisfeita, tomando-a pela mão, arrastou-a até a coluna de cristal onde ficou presa, sem nenhuma portinhola à vista. O jovem ficou mais intrigado ainda, o que seria que estava acontecendo ali? E assim se preparou para ficar mais uma noite escondido atrás daquela rocha para desvendar o mistério.

Na segunda noite as três bruxas vieram novamente, brigaram entre si e uma outra bruxa ganhou desta vez e levou a princesa consigo. O jovem as seguiu novamente e como a bruxa fechou a porta da sua choupana, ele se aproximou da janela de onde podia ver e ouvir tudo o que se passava lá dentro. Esta bruxa então falou assim com a princesa: - Querida, quer alguma coisa? Está com fome, quer comer alguma coisa?

- Oh, sim, - respondeu a princesa, - faz três dias que não como nada!

E a bruxa cobriu a mesa com tigelas, pratos e baixelas cheios das mais lindas coisas apetitosas. E o jovem ficou feliz pela princesinha poder se fartar com aquela comida deliciosa. E a princesa comeu e comeu, mas na última garfada, de repente, ela fez uma cara de nojo, jogou o garfo no chão e começou a chorar:

- Sua bruxa malvada, o que foi que você me deu de comer? No começo estava tão gostoso e esta última garfada foi tão amarga e nojenta!

E a bruxa, dando gargalhadas, pegou a princesa pela mão, arrastou-a até a sua coluna e trancou-a lá dentro novamente, sem que houvesse uma porta visível. O jovem ficou com o coração doendo de dó, mas não sabia o que fazer para ajudar e decidiu ficar mais uma noite.

Na terceira noite as três bruxas chegaram, brigaram como das outras vezes e dessa vez foi a terceira que venceu. O jovem seguiu-a e viu como ela levou a princesa para a sua choupana. Escondeu-se debaixo da janela e ouviu a bruxa perguntar:

- O que posso fazer por você, querida? Quer ouvir um pouco de música, por exemplo?

- Oh sim, respondeu a princesa. Faz tanto tempo que não ouço música e é tão silencioso dentro da coluna!

E a bruxa pegou uma harpa e começou a tocar e cantar tão bonito que não dava para acreditar que fosse uma bruxa! A princesa se pôs a dançar e o jovem ficou encantado com a leveza de seus movimentos, mas neste momento a bruxa enfiou as unhas nas cordas e a música se tornou um barulho insuportável, mas por ser uma música enfeitiçada, a princesa não conseguia parar de dançar até cair no chão com os pés feridos. E foi aí que o jovem teve uma idéia. Correu de volta para a coluna que tinha ficado com a porta aberta, retirou o último pedacinho de pão da sua mochila e o colocou dentro da coluna e depois se escondeu.

A bruxa, rindo alto, arrastou a princesa com os pés machucados, de volta para a coluna, fazendo desaparecer a portinhola.

Na manhã seguinte, a princesa ao acordar, viu algo no chão e descobriu ser um pedacinho de pão. Levantou-o e deu uma mordidinha e saboreou este bocado como se fosse a maior delícia do mundo. E bocadinho após bocadinho comeu todo o pão, sorrindo de olhos fechados.

À noite, quando a primeira das bruxas venceu a briga e a levou à sua choupana e lhe perguntou se ela queria comer alguma coisa, a princesa respondeu:

- Muito obrigada, mas hoje eu comi algo muito melhor do que qualquer coisa que você poderia me dar!

A bruxa ficou furiosa, deu um berro, pegou a princesa pelo braço e a arrastou para a coluna de cristal. Mas antes disto, o jovem lembrara de outra coisa que poderia dar à princesa e correra na frente. De sua mochila tirou uma tigelinha que sempre usava para tomar água, encheu-a com água da fonte e a colocou dentro da coluna que ficava sempre aberta quando a princesa não estava lá dentro.

E na manhã seguinte a princesa percebeu que algo no chão faiscava à luz do sol e quando se agachou viu ser um recipiente com água cristalina. Tomou-a saboreando cada gole e permaneceu sorrindo o dia todo.

À noite, quando a segunda bruxa a levou a sua choupana e lhe ofereceu algo para tomar, a princesa respondeu:

- Muito obrigada, mas hoje tomei algo muito melhor que qualquer bebida que você possa me dar!

A bruxa deu um berro pior que a outra, deu um salto pela janela, entrou pela porta novamente, pegou a princesa pelo braço e correu com ela para a coluna tão depressa que a princesa mal conseguiu acompanhá-la.

Desta vez o nosso caminhante não soube mais o que poderia dar à princesa e de tão cansado de todas as noites em que passara observando aqueles acontecimentos, sentou-se ao lado da coluna e adormeceu.

Na manhã seguinte, a princesa acordou ouvindo um som que pareciam badaladas de um sino. Como isso, se nunca ouvira nada dentro da coluna? Olhando ao redor, descobriu o jovem adormecido ao pé da coluna, encostado nela. E as batidas do seu coração tinham feito a coluna de cristal vibrar e emitir aqueles belos sons...

O jovem, ao sentir o calor do sol nas suas faces, acordou assustado, levantou-se de um pulo e foi para o seu esconderijo atrás da pedra.

Na noite seguinte tudo aconteceu como das outras vezes, até a terceira bruxa levar a princesa e o caminhante as seguiu. Quando a bruxa ofereceu fazer música para a princesa ela somente respondeu:

- Muito obrigada, mas hoje ouvi algo muito mais lindo que qualquer música que você pudesse fazer!

A bruxa deu um berro medonho, saiu voando pelo telhado da sua choupana, encontrando-se no ar com as outras duas bruxas, e as três nas suas vassouras chocaram-se no ar, brigaram até que os seus cabelos pegaram fogo e elas sumiram numa nuvem negra de fumaça.

A princesa tinha corrido para fora da choupana e lá o caminhante foi ao seu encontro, envolveu-a com o seu manto e voltaram juntos para a coluna de cristal. Mas esta havia desaparecido. No seu lugar surgiu um pequeno trono dourado, justamente do tamanho certo para a princesa. Em volta do trono ergueram-se paredes douradas que foram montando um lindo castelinho. As pedras brancas em volta do topo da montanha se transformaram em seres humanos. O caminhante olhava surpreso para tudo isto, quando a princesa o tomou pela mão e começou a lhe explicar: as três bruxas, por inveja e maldade haviam enfeitiçado o seu reino, mantendo-a cativa na coluna de cristal da qual ela somente seria libertada quando conseguisse rejeitar as ofertas das bruxas. Mas isto fora impossível, pois deixavam-na tanto tempo sem comer ou beber, e naquele silêncio total da coluna, que nunca conseguira dizer não, até que o caminhante, com os seus presentes e sua presença lhe havia dado as forças para rejeitar qualquer oferta delas. E agora ela pedia que ele reinasse com ela, e todo o povo que fora desencantado com a princesa aclamou-o o seu rei.

Fizeram uma linda festa de casamento e a princesa e o jovem caminhante principiaram a sua regência, podendo ver do castelo, todo o seu reino, do amanhecer até o pôr do sol.