segunda-feira, 21 de maio de 2007

9. A Morte






















































Por que inventaste a morte?

Conto de fadas africano

No céu morava Fidi-mukullu. Ele fazia tudo e via tudo. E quando os homens ficavam velhos, morriam. Quando uma cobra venenosa os mordia, morriam. E os homens tinham muito medo. Lamentavam os mortos e lamentavam a vida. Quando havia guerra, muitos homens morriam.

Os vencedores matavam os velhos e levavam as mulheres e as crianças. E quem tivesse um feitiço ruim no corpo, ficava doente e morria. Era de chorar, a vida era muito cruel. Os pajés faziam remédios mágicos contra a doença e a morte. Mas não funcionava sempre.

Um velho que já havia vivido e sofrido muito, viu a mulher morrer. Ninguém soube ajudar. Ninguém sabia explicar porque tudo tinha que ser assim.

- Fidi-mukullu quer que seja assim!, disse o pajé.

Fidi-mukullu queria que fosse assim! O velho, então, fez um grande tambor de madeira e foi para a mata. Lá havia uma árvore oca tão grande que alcançava o céu, chegando até a aldeia de Fidi-mukullu. O velho colocou o seu tambor no oco da árvore e começou a batê-lo com as duas mãos. Bateu o tambor por muitas horas, durante a noite toda, cantando:

Fidi-mukullu,Tu és grande!
Tu decides a sorte dos homens.
Tu fizeste o mundo todo,
Os animais e os homens,
Tu ordenas a noite e envias o dia.
Tudo está bem. Mas quando o dia se vai,
Eu me lamento, Senhor,
diante de Ti, o meu sofrimento.
Por que, Senhor, fizeste o tempo
Que envelhece os homens?
Por que inventaste a morte?
Por que é esta a nossa sorte?
Fidi-mukullu, Tu és grande!


O homem cantava e batia o tambor. Era uma canção triste. O homem a enviava todas as noites para o céu. O tambor retumbava pela mata, chamando Fidi-mukullu:
- Por que fizeste a morte?

Fidi-mukullu ouviu e perguntou:
- O que é isto? Porque este homem me chama?

Ninguém sabia. Nas noites seguintes, continuaram a ouvir os chamados do tambor e a canção de lamento.
- Onde está este homem?, perguntou Fidi-mukullu.

Ninguém sabia.
- Procurem-no! Ordenou Fidi-mukullu.

Os homens andaram por aí, procurando o velho. Mas não conseguiam encontrá-lo. Na noite seguinte a canção soou novamente. As pessoas começaram a sentir medo. Fidi-mukullu estava aborrecido.

Ele chamou a formiga vermelha da floresta.
- Vá você, Lufumbe, procurar o homem que toca o tambor e canta! – ordenou-lhe Fidi-mukullu.

Lufumbe se pôs a caminhar. Foi abrindo o seu caminho através da mata comendo o que estivesse na frente. Comeu tudo e foi abrindo caminho que levava a árvore oca. Encontrou o velho.
- Fidi-mukullu te chama! - disse a formiga ao velho.

O velho seguiu o caminho comido por Lufumbe, e chegou onde estava Fidi-mukullu que estava com a cara muito brava.
- Quem é você, fica cantando que sou o Senhor e que fiz tudo bem. Mas se lamenta porque tem que morrer. Pois não sou o Senhor?

- Tu és o Senhor – respondeu o homem.

- E não posso fazer o que bem entender?

- Sim, podes porque és o Senhor.

- Então, porque se lamenta desse modo?

- Eu me lamento, porque sou humano. Tu és imortal, mas eu devo morrer. Assim tu o quiseste.

Durante o dia esqueço o meu sofrimento. Quando brilha o sol, o mundo parece bom. Mas de noite fico triste. Quando está escuro, penso na morte. Por isso, será que posso cantar pelo menos a noite, falando da minha tristeza por ter que morrer um dia?

Fidu-mukullu ficou pensativo. Respondeu depois:
- É verdade que eu permito os homens despertar para a vida e depois os deixo cair no sono mais profundo. Eu posso fazê-lo, porque sou o Senhor. Você porém, pode lamentar, porque é humano e deve morrer.

- Por que devemos morrer? – perguntou o velho.

- O que fazem? Comem, bebem e dormem. Isto é vida?

- Nós caçamos, fazemos guerra, ficamos doentes – respondeu o velho. – Construímos as nossas casas, nos enfeitamos e festejamos festas. Plantamos e colhemos, fazemos flechas, esculpimos imagens e inventamos magias. Amamos as nossas mulheres, criamos os nossos filhos e lhes contamos as velhas histórias. Nós comemos, bebemos e dormimos.

- E devem morrer! – adicionou Fidi-mukullu. - Porque sem a morte, a vida não seria boa. Continue cantando, então, homem!

O homem voltou para a sua aldeia. De noite ia para a árvore oca e suas mãos calejadas batiam o ritmo. Ele cantava a lamentação da vida e da morte:

Fidi-mukullu,Tu és grande!
Tu decides a sorte dos homens.
Tu fizeste o mundo todo,
Os animais e os homens,
Tu ordenas a noite e envias o dia.
Tudo está bem. Mas quando o dia se vai,
Eu me lamento, Senhor,
diante de Ti, o meu sofrimento.
Por que, Senhor, fizeste o tempo
Que envelhece os homens?
Por que inventaste a morte?
Por que é esta a nossa sorte?
Fidi-mukullu, Tu és grande!

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