sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

3. O Nascimento





A triste flor Wanka
irmãos Bondarenko
Durante as horas noturnas as flores atrás da janelinha da vovó Agáfia conversavam umas com as outras. A pequena casa tinha três janelas cheias de potes de flores. De dia as plantas olhavam para a rua, mostrando as suas folhas verdes aos transeuntes, fazendo de conta que era só isso o que sabiam fazer: crescer e florescer nos potes. Mas de noite, quando a casa ficava silenciosa e a vovozinha dormia e sonhava, as flores despertavam e começavam a conversar.
Assim era todas as noites e as flores tinham muito que contar até o amanhecer. As horas passavam rapidamente, mas havia uma planta que permanecia quieta e tinha uma carinha triste. Nunca ninguém a vira florescer, nunca ninguém a ouvira falar. Ficava olhando para o escuro da noite através da vidraça e chorava. De suas folhas escorriam gotas claras que eram notadas por todos.
A planta triste tinha o seu pote ao lado da begônia e a begônia se aborrecia com a vizinha chata e calada. Mas então, uma noite, quando se fizera silêncio na pequena casa, a planta triste se dirigiu à begônia e disse:
- Você sabe quem eu sou?
- É claro, a Wanka triste.
- Este nome foi dado a mim pela vovó por causa das minhas lágrimas. Mas ninguém entre vocês sabe porque eu choro, e ninguém conhece o meu verdadeiro nome. Eu me chamo Foguinho.
- Que nome estranho! – comentou a begônia. – Foguinho? Mas você nunca arde nem floresce.
- Pois esta é a minha infelicidade! A vovó Agáfia nunca permitiu que eu florescesse. Porque se eu florescesse uma vez, morreria logo depois. Mas se alguém corta os meus brotos antes que se abram em flor, posso viver por muito tempo. Por isso a vovó cuida para que os meus brotos não se abram e os corta. Mas desta vez escapou-lhe um!
- Escapou-lhe um? – perguntou a begônia.
- Eu o escondi e amanhã ele irá se abrir.
A begônia começou a ficar inquieta e sussurrou: - Por que você fez isso? Assim terá que....
- .....morrer, você quer dizer – interrompeu-a Wanka.
O luar iluminou a janela, e todos conseguiram ver que Wanka não estava mais triste: estava, isso sim, radiante de felicidade.
- É verdade, terei que morrer. Mas antes disso, irei florescer. E agora tenho algo sobre o que posso falar!
- Mas você não pode florescer, a morte espreita na sua flor! Como é que você teve a coragem, Wanushka!
- Eu simplesmente tive que fazê-lo. Que vida é esta se não posso dar flor? Vocês se aborreceram comigo porque eu não falava com vocês, mas eu nem tinha o que dizer. A vovó sempre cortava os meus brotos, por isso eu chorava. E vocês me chamavam de Wanka triste. Mas amanhã vou abrir a minha flor e vocês entenderão porque o meu nome é Foguinho.
De manhã, ao nascer do sol, a Wanka triste estava com uma flor. A vovó juntou as mãos em assombro:
- Mas quem diria!
Wanka ficou quietinha. A sua flor vermelha parecia uma estrela brilhando acima dela. As cinco pétalas ardiam como fogo e todas as plantas atrás da janela sabiam que Wanka iria morrer. E mesmo assim se alegraram com ela. Somente a vovó ficou repetindo:
- Quem diria! Nunca pensei que pudesse acontecer! Quem diria!