sexta-feira, 6 de abril de 2007

6. O Batismo





O Filho do Rei
Tania Cristina Walzberg
Era uma vez um reino em que as plantas davam lindas flores, havia muitos frutos, as crianças eram saudáveis e alegres e não existia miséria.
Em frente ao palácio havia uma árvore maravilhosa, mais velha que o sábio mais velho de todo o reino, mais velho que o seu pai e seu avô. A enorme ramagem cobria a feira semanal e os vendedores de legumes e frutas sempre faziam bons negócios na sua sombra.
Todos amavam e admiravam a árvore, sim, ela já era um símbolo daquele reino.
O jovem filho do rei gostava muito de plantas e adorava observar os bichos. As tardes ele passava no jardim ou fazia pequenos passeios. Não era raro ele trazer na sua volta um animal ferido ou uma planta interessante.
Assim os anos foram passando felizes. Um dia o rei, seu pai veio falar-lhe:
- Meu filho, uma grande desgraça está desabando sobre nosso reino. Pois contam nos países vizinhos que a nossa bela árvore está doente e terá que morrer logo. Agora nossos sábios foram ao local e constataram que isso é verdade. Por isso te peço que vá lá também, olhe bem e veja o que está acontecendo. Saiba que com a árvore doente todo o nosso povo ficará doente também.
O príncipe correu para fora do palácio e viu as pessoas em volta da árvore, crianças perguntavam baixinho aos seus pais o que estava acontecendo e duas velhas sentadas num canto choravam.
-Pai - disse o príncipe ao voltar ao palácio. - Pai, é verdade. Temos que ajudar a árvore. Então permita que eu saia pelo mundo, vou pedir conselho aos homens e aos espíritos.
Assim o jovem filho do rei começou a sua caminhada e encontrou pessoas boas e más, foi perseguido por bons e maus espíritos, fez amizade com animais, que lhe ajudaram várias vezes e chegou a países desconhecidos e estranhos.
Ele teve muitas vivências bonitas, mas ninguém soube dar-lhe um conselho. Por três verões e três invernos ele já estava procurando, sem resultado nenhum. Triste andava por um campo e não sabia mais para onde ir.
Estava ficando sem esperança quando ouviu nos ares um pássaro, e olhando para cima ficou admirado em ouvir o pássaro falar-lhe:
- Querido príncipe, por que olhas tão desanimado e triste, por que não voltas para casa e para junto de teu velho pai? Ele sente saudades.
- Oh, tu sabes algo sobre meu reino? Diz-me, como estão todas aquelas queridas pessoas?
- Não estão muito bem, não ouvi nenhuma risada alegre, homens e mulheres parecem doentes e não tem mais palavras amáveis uns para os outros.
- Querido pássaro - disse o príncipe - eu estou andando pelo mundo em busca de ajuda para nossa linda árvore, pois ela está doente e é por isso que não há mais alegria.
O pássaro ficou muito admirado com tudo isso, sobrevoou algumas vezes a cabeça do príncipe e lhe contou de uma água curativa que saía de uma rocha num bosque escuro.
O príncipe ficou contente. - Finalmente uma esperança! Diga-me, onde encontro esse bosque e a água maravilhosa?
O pássaro olhou atentamente para ele e disse: -Faz muito, muito tempo que estive lá pela última vez, e além disso é uma tarefa perigosa, pois estando lá, espíritos horríveis te ameaçarão com maldições e feitiços, sei de pessoas que nunca saíram desse lugar assustador.
- Quero tentar mesmo assim, mesmo que tenha que lutar contra cada um dos espíritos e contra todos os espíritos de uma vez, se for necessário.
O pássaro avisou-lhe ainda: - Os espíritos não podem fazer mal nenhum a um coração puro, mas logo que um pensamento ruim, desprezo ou impaciência surgirem em ti, já poderão ferir-te.
O príncipe então pôs-se a caminho mais uma vez. Quando depois de muitos dias ele finalmente chegou à beira do bosque, ele viu o pássaro por última vez. Agradeceu-lhe em pensamentos e desapareceu atrás das árvores escuras.
Sentiu-se pouco confortável, um vento frio soprava a seus pés, como se alguém quisesse segurá-lo ali. Bem devagar foi pondo um pé em frente ao outro, passando por cima de troncos podres, entrando cada vez mais no bosque.
Sentiu-se tonto, apoiou-se numa árvore, mas esta era muito espinhuda, e ele já queria ficar bravo, quando ouviu o murmúrio de água. Correu o quanto pode na direção do ruído que porém mudava a cada instante, forçando o príncipe a mudar também constantemente de direção, até que teve que parar para recuperar o seu fôlego e no vento ouviu uma risada de longe.
Procurou e procurou até a noite chegar, seus pensamentos sempre na árvore que queria rever logo. Exausto deitou-se e adormeceu. Sonhou com seu pai, ao lado do rei viu a rainha, sua mãe que lhe sorria suavemente. E no sonho viu também a árvore possante e muitas pessoas felizes.
Ao acordar, percebeu ao seu lado um riachinho de água clara e brilhante.
Tomou da água e ela tirou-lhe a fome e deu-lhe forças. Ele pôs-se de pé e sabia agora, que essa era a água que poderia ajudar a árvore e com ela a todo o seu reino. Seguiu o riachinho até chegar à fonte que brotava de uma rocha. Lá encheu o seu cantil e com forças renovadas tomou o caminho de casa.
As pessoas jubilaram ao vê-lo de volta. E a primeira coisa que fez foi regar as raízes da árvore com a água sanante. A olhos vistos ela recuperou-se, as pessoas respiraram aliviadas e foram retomar os seus trabalhos.
O filho do rei foi festejado com todas as honras. Quando seu pai morreu ele assumiu as suas tarefas e foi um rei bom e muito querido, que regeu com justiça e ainda realizou vários atos heróicos.

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