sexta-feira, 23 de março de 2007

5. A Espera




O Príncipe que cuidava de porcos
Isabel Wyatt
O príncipe Henrique era o filho de um rei. Quando o príncipe Henrique ainda era um menino, o rei morreu e um inimigo tomou posse de seu país.
O Príncipe Henrique foi enviado para a Rocha do Porco. Na Rocha do Porco um velho pastor cuidava dos porcos do rei e o príncipe deveria ajudar-lo. A Rocha do Porco era cercada por água por todos os lados. Mas num dia muito claro, o príncipe Henrique avistou penhascos ao longe.
- Que país é aquele?
E o velho pastor lhe contou:
- É um país ao qual não se deveria tentar ir. Lá todos os homens morrem de medo de um javali muito selvagem.
Príncipe Henrique disse aos seus porcos:
- Eu tentarei ir para aquele país, com javali selvagem ou não. Porque se eu conseguir fazê-lo, estarei livre.
Mas como ele iria até lá? Era muito longe para ir nadando. E ele não tinha barco para ir navegando. E ferramentas ele também não tinha.
O velho pastor mantinha as porcas e os leitões num chiqueiro perto de sua cabana. Todos os dias ele mandava o príncipe para a floresta para que os grandes porcos engordassem. O dia inteiro, os porcos comiam as nozes que caíam das árvores. Quando viam que o príncipe apanhava um graveto, eles corriam até ele, soltando grunhidos de alegria. Ficavam parados quietinhos, para que ele os coçasse nas costas e atrás das orelhas. Depois deitavam e dormiam.
E assim sete anos se passaram. O príncipe Henrique era agora um homem. E, um dia, o mar jogou um tronco na areia.
O velho pastor dormia sempre ao meio-dia. E neste momento, o príncipe passou a deixar os porcos comendo na floresta e corria para a praia.
Com lascas de pedra bem afiadas, pouco a pouco, escavou um barco naquele tronco. Um galho serviu-lhe como mastro. Dois galhos seriam os remos. Mas ele teria que ficar ainda na Rocha do Porco até que soprasse um vento do oeste. Dia após dia, o vento soprava de todos os lados menos do oeste. Um dia, finalmente, uma leve brisa começou a soprar daquela direção.
O príncipe Henrique deixou os porcos comendo na floresta e correu à praia.
Puxa, empurra, puxa, empurra, puxa, empurra e tchibum, seu barco estava no mar!
Ele pendurou no mastro o seu casaco, para receber o vento que vinha do oeste. E com um remo em cada mão deslizou sobre o mar.
Balança, balança, tchip, tchap, balança, balança, tchip, tchap....E assim ele ia com a ajuda do vento do oeste.
A Rocha do Porco era somente um pontinho no mar às suas costas. Os penhascos na sua frente ficavam cada vez mais próximos. Agora já podia ver as muralhas de uma cidade e uma floresta. E de repente o mar jogou-se sobre o seu barco. Jogou-o para cima, jogou-o para baixo, jogou-o nas areias ao pé dos penhascos.
Homens na muralha da cidade viram-no e correram até ele pela trilha que havia entre os penhascos. Seguraram-no pelos pés, para que a água engolida por ele pudesse sair. Depois deitaram-no na areia e tiraram mais água dele.
Logo o príncipe sentou-se e disse aos homens:
- Vocês continuam com medo de um javali selvagem nesse país?
- Oh sim - responderam eles.
- Então tragam-me o seu rei - disse o Príncipe Henrique.
- Nós não temos rei - lhe contaram. - Nosso rei morreu faz pouco tempo. Sua única filha é agora a nossa rainha. Ela se casará com o homem que matar o javali.
- Então tragam-me um saco e uma lança - disse o príncipe Henrique.
Pegou o saco e a lança que lhe trouxeram e subiu os penhascos. E entrou no bosque.
No bosque foi de árvore em árvore catando nozes, até o saco ficar cheio. O javali selvagem sentiu o cheiro de ser humano no bosque, e seus olhos ficaram vermelhos e espuma caía de seus lábios. Depois saiu correndo em disparada: corre, salta, pula, empurra, derruba... O príncipe Henrique subiu numa árvore e o javali correu até lá.
Suas presas eram longas. Suas presas eram fortes. A cada investida do javali selvagem o príncipe sentia a árvore debaixo dele tremer, os galhos agitarem-se. E ele jogou algumas nozes no chão. Logo que o javali viu as nozes, parou e começou a comê-las. O príncipe jogou mais nozes e mais nozes, até o saco ficar vazio.
Por fim o javali estava bem satisfeito. Então o príncipe Henrique segurou-se num galho com as pernas e com sua mão esquerda. Com a ponta da lança coçou as costas e as orelhas do javali selvagem.
Grunhe, grunhe, grunhe, o javali selvagem estava felicíssimo. Ficou parado quietinho para desfrutar aquelas cócegas. E finalmente deitou e dormiu.
O príncipe Henrique enfiou a lança na nuca do javali. E com isso, terminou assim com o medo que existia naquele país. O príncipe Henrique voltou à cidade nos penhascos e mandou homens buscarem o javali morto para que todos pudessem vê-lo.
A rainha saiu correndo da cidade para encontrar o príncipe. Tomou-lhe as duas mãos e disse:
- Essa é a sua cidade, esse é o seu país agora - ela lhe disse. - De hoje em diante você é o rei. Mas conte-me, como conseguiu fazê-lo? Quando outros homens tentaram matá-lo, o javali selvagem os deixou em pedaços!
- É que eles não sabiam tudo o que eu sabia - disse o príncipe Henrique. - Eles não cuidaram de porcos por sete anos!

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